terça-feira, 6 de setembro de 2011

Excerto: «Promessa de Sangue»

«Naquele momento, quando estava a pensar em aproximar-me do grupo de Moroi, uma das mulheres dhampir levantou-se da mesa e caminhou até ao bar. Os guardiães observaram-na, claro está, mas pareciam confiantes relativamente à sua segurança e estavam mais concentrados nos Moroi. Durante todo este tempo, pensei sempre que os homens Moroi seriam a melhor possibilidade de obter informação acerca da cidade de dhampirs e prostitutas de sangue – mas que melhor maneira poderia haver para descobrir essa localidade do que perguntando mesmo a uma prostituta de sangue?
            Levantei-me casualmente da minha mesa e aproximei-me do bar, como se também fosse pedir uma bebida. Deixei -me ficar por perto enquanto a mulher esperava pelo barman e estudei -a através da minha visão periférica. Ela era loira e usava um vestido comprido coberto por lantejoulas prateadas. Não consegui decidir se o vestido dela fazia com que o meu vestido justo preto de cetim parecesse elegante ou sensaborão. Todos os movimentos dela – mesmo a forma como se deixava estar simplesmente em pé – eram graciosos, como os de uma dançarina. O barman estava a atender outras pessoas e eu soube que era agora ou nunca. Inclinei-me para ela.
– Fala inglês?
Surpreendida, ela deu um salto e olhou para mim. Era mais velha do que eu estava à espera, estando a idade inteligentemente ocultada pela maquilhagem. Os seus olhos azuis avaliaram -me rapidamente, reconhecendo-me como dhampir.
– Sim – respondeu ela cautelosamente. Mesmo só uma palavra foi o suficiente para perceber a pronúncia carregada.
– Estou à procura de uma cidade… uma cidade onde vivem muitos dhampirs, lá na Sibéria. Sabe do que estou a falar? Tenho de encontrá-la.
Mais uma vez, ela estudou -me, e consegui ler a sua expressão. Podia muito bem ter sido uma guardiã, a avaliar pelo seu rosto imperscrutável. Talvez tivesse recebido algum tipo de treino a dada altura da sua vida.
– Não – respondeu secamente. – Deixe isso. – Virou -me as costas e o seu olhar regressou ao barman, enquanto ele preparava para alguém um cocktail azul adornado com cerejas.
Toquei-lhe no braço.
– Tenho mesmo de encontrá-la. Há um homem… – Engasguei-me com a palavra. Lá se ia o meu interrogatório sereno. Só o simples facto de pensar em Dimitri trazia-me o coração à garganta. Como é que podia sequer explicar a situação a esta mulher? Como explicar que estava a seguir uma pista improvável, em busca do homem que mais amava neste mundo, um homem que fora transformado em Strigoi e que eu agora tinha de matar? Naquela altura, ainda conseguia imaginar na perfeição o calor dos seus olhos castanhos e a forma como as suas mãos me costumavam tocar. Como é que conseguiria fazer aquilo que me forçara a atravessar um oceano para levar a cabo?
«Concentra-te, Rose. Concentra-te.»
A mulher dhampir dirigiu-me novamente o olhar.
– Ele não merece isso – disse ela, sem perceber o que eu quis dizer. Sem dúvida que pensou que eu era uma rapariga apaixonada, atrás de algum namorado, o que, suponho, até não estava longe da verdade. – És demasiado jovem… não é demasiado tarde para evitares tudo aquilo. – O rosto dela podia ser impassível, mas havia tristeza na sua voz. – Vai fazer outra coisa qualquer na tua vida. Mantém-te longe daquele sítio.
– Sabe onde fica! – exclamei, demasiado excitada para explicar que não queria ir para lá a fim de me tornar uma prostituta de sangue. – Por favor, tem de me dizer. Tenho de lá chegar!
– Há algum problema?
Voltámo-nos ambas e olhámos para o rosto feroz de um dos guardiães. Bolas. A mulher dhampir poderia não ser a prioridade deles, mas teriam reparado em alguém a importuná-la. O guardião era apenas um pouco mais velho do que eu e esbocei um sorriso doce. Podia não estar a sair do vestido como a outra mulher, mas sabia que a minha saia curta favorecia muito as minhas pernas. Certamente, nem mesmo um guardião seria imune a isso. Bem, ao que parecia, aquele era. A sua expressão dura mostrou-me que os meus encantos não estavam a funcionar. Ainda assim, pensei que o melhor seria tentar a minha sorte com ele e ver se conseguia obter informações.
– Estou a tentar encontrar uma cidade na Sibéria, uma cidade onde vivem dhampirs. Sabe onde fica?
Ele não pestanejou.
– Não.
Ótimo. Estavam ambos a fazer-se difíceis.
– Pois, está bem, talvez o seu patrão saiba? – perguntei, de forma reservada, na esperança de parecer uma aspirante a prostituta de sangue.
Se os dhampirs não quisessem falar, talvez um dos Moroi o fizesse.
– Talvez ele queira companhia e fale comigo.
– Ele já tem companhia – respondeu o guardião calmamente. – Não precisa de mais.
Eu mantive o sorriso estampado no rosto.
– Tem a certeza? – ronronei. – Talvez lhe devêssemos perguntar.
– Não – respondeu o guardião. Naquela simples palavra, ouvi o desafio e a ordem. «Afasta -te.» Ele não hesitaria em eliminar qualquer pessoa que considerasse uma ameaça para o seu senhor… nem que fosse uma modesta rapariga dhampir. Pensei em forçar um pouco mais, mas decidi rapidamente dar ouvidos ao aviso e, efetivamente, afastei -me.
Encolhi os ombros de forma despreocupada.
– É ele quem fica a perder.
Sem mais palavras, regressei casualmente à minha mesa, como se a rejeição não me importasse minimamente. Durante todo aquele tempo, sustive a respiração, quase à espera de que o guardião me arrastasse pelos cabelos para fora da discoteca. Isso não aconteceu. No entanto, enquanto pegava no casaco e deixava algum dinheiro na mesa, vi-o a olhar para mim, desconfiado e cauteloso.
Saí do Rouxinol com o mesmo ar descontraído, dirigindo-me para a rua movimentada. Era sábado à noite e havia muitas outras discotecas e muitos restaurantes nas redondezas. As pessoas que se dirigiam às festas enchiam as ruas, algumas vestidas tão elegantemente quanto os clientes habituais do Rouxinol; outras tinham a minha idade e vestiam-se de forma casual. As filas aglomeravam -se à porta das discotecas, de onde saía música de dança alta e palpitante com tons graves. Os restaurantes, com as suas grandes montras de vidro, desvendavam comensais elegantes e mesas ricamente postas. Enquanto atravessava a multidão, rodeada por conversas em russo, resisti à tentação de olhar para trás de mim. Não queria levantar mais suspeitas, no caso de o tal dhampir estar a observar-me.
No entanto, quando entrei numa rua calma que constituía um atalho para o meu hotel, consegui ouvir os suaves sons de passadas. Ao que parecia, tinha levantado suspeitas suficientes para o tal guardião ter decidido seguir -me. Bem, não havia qualquer hipótese de lhe dar uma oportunidade de levar a melhor. Podia ser mais pequena do que ele – e estar de vestido e saltos altos – mas já lutara contra muitos homens, incluindo alguns Strigoi. Conseguiria dar conta daquele tipo, principalmente se usasse o elemento surpresa. Depois de calcorrear este bairro durante tanto tempo, conhecia as ruas e as suas curvas bastante bem. Estuguei o passo e dobrei apressadamente algumas esquinas, uma das quais me levou para uma viela escura e deserta. Assustadora, era verdade, mas constituía um bom local para fazer uma emboscada, pelo que me escondi na entrada de um prédio. Tirei silenciosamente os sapatos de salto alto. Eram pretos com bonitas tirinhas de cabedal, mas não eram ideais para uma luta, a não ser que eu fizesse tenção de arrancar o olho a alguém com um salto. Na verdade, até nem seria má ideia. Contudo, não estava assim tão desesperada. Sem os sapatos, sentia o chão frio sob os meus pés nus, dado que tinha chovido horas antes.
Não tive de esperar muito tempo. Passados alguns segundos, ouvi as passadas e vi a sombra esguia do meu perseguidor a aparecer no chão, recortada pela luz tremeluzente de um poste de iluminação de uma rua adjacente.
[…]»

2 comentários:

Joana Cardoso disse...

Olá!! Será que me podiam dizer qual é o dia de lançamento do livro Promessa de Sangue??

Obrigada!!

diana disse...

dia 23 de setembro