segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Crítica de Leitor: «Academia de Vampiros»

«Com a febre dos vampiros ainda bastante presente na literatura juvenil actual, é sempre um risco – para alguém que verdadeiramente aprecie o tema – debruçar-se sobre qualquer obra que detenha uma faceta mais jovem e romântica assente na sinopse. No entanto, por vezes surgem surpresas. Muito boas surpresas, até. E isso deu-se com Vampire Academy, uma muito interessante estreia de Richelle Mead, que vem mostrar um lado diferente, mais enigmático, expansivo e hierárquico de uma espécie sobrenatural que deixou de ser imortal.
Embora inicialmente receosa, confesso não ter sido capaz de resistir por muito mais tempo. Assim que me deparei com a nova capa – uma reimpressão Contraponto para celebrar a segunda edição do livro – a vontade de simplesmente lhe pegar e me deixar afundar num universo de dentes aguçados, sangue destilado e tortura psíquica foi tão possante e intensa que continuar sem ceder foi impossível. Assim, tive de lhe pegar... e não poderia ter ficado mais satisfeita.

O aspecto que mais me agradou em toda a leitura foi a amizade presente entre as duas protagonistas – Rosemarie e Vasilisa. O laço que as une é fabuloso, estando tão bem descrito ao ponto de atingir o leitor que imediatamente se sente enfeitiçado pelo magnetismo partilhado entre as duas. É também o constante presenciar do real sentido e valor da amizade entre Rose e Lissa que espicaça o leitor a querer conhecê-las a fundo, a querer saber o verdadeiro motivo que levou à fuga de ambas e ao desespero de Rose em querer proteger a sua melhor amiga de tudo e de todos e, principalmente, em querer saber o segredo que claramente se percebe existir entre as duas... e que mais ninguém sabe.
A beleza no seu sentido mais puro, deste ponto forte da narrativa, está no facto de ser levada ao limite por inúmeras vezes, demonstrando uma persistente protecção de ambas as partes, com altos e baixos, com inimizades e controlos e excessos e avisos, e é essa aproximação do real que incita o leitor a prosseguir leitura, sempre curioso com a próxima etapa, o próximo obstáculo a colocar-se entre as duas ou nos seus caminhos.

As relações que as duas vão tecendo e aprofundando com algumas personagens secundárias são outro dos aspectos mais prezáveis da obra. Mead, ao descrever a um leitor absorto e em branco um mundo que é comum e que pouco de novo tem para oferecer às principais intervenientes que o habitam e conhecem, possibilita que a acção se vá desenrolando sem necessidade de se entrar em pormenores introdutórios excessivamente descritivos e maçadores usuais do início de uma série. Pelo contrário e uma vez que as protagonistas já frequentavam a Academia São Vladimir (onde ocorre quase toda a acção do livro), com a naturalidade dos acontecimentos o leitor toma consciência e conhecimento das várias personalidades participantes na trama, ligações e hostilidades existentes no meio apresentado através de ocorrências entre Rose e Lissa e essas personagens, o que por si oferece ao leitor uma sintonia muito mais segura e consciente para com tudo o que vai surgindo ao longo das páginas.

Christian foi uma personagem que me chamou a atenção logo de início, pelo seu lado misterioso, incompreendido e algo grosseiro e defensivo. Habituado a ser invisível, é a sua personalidade e a forma como encara os restantes Moroi Reais, como ele, que cativa o leitor. A sua indiferença para com os outros e interacção algo proibida com Lissa serve de igual moto de interesse, apelando ao bom senso e empatia do leitor.
Dimitri é outro dos intervenientes que destaco, pela sua perspectiva madura (é mais velho que a maioria) e inteiramente focada no que é essencial – como Dhampir é seu dever, acima de tudo, proteger o ou a Moroi para si designado, mesmo que isso exija colocar o amor em segundo plano.
Mia também apresentou luta, sobretudo por ser uma Moroi fora da Realeza e, como tal, sujeita a enfrentar a mesma crueldade que qualquer outro ser abaixo da grandeza. O seu ódio inicialmente inexplicável é tão forte e tão puro que as atrocidades que comete e que leva outros a igualmente orquestrar em resposta são simplesmente magníficas, levando o leitor à loucura de curiosidade.
Com aparições mais pequenas mas igualmente avassaladoras e importantes para o desenrolar da narrativa, faço menção a Mason, um grande amigo de Rose cujo amor não é correspondido, Victor pela perspicácia e surpresa final e Kirova pela rudeza e mão firme.

Não posso deixar de referir ainda a hierarquia estabelecida e algumas das características vampíricas atribuídas tanto aos Moroi e Dhampir como aos Strigoi. Os primeiros são os mais importantes e aqueles que ocupam os postos de maior relevo na sociedade. São também considerados os “reais” vampiros, aqueles que necessitam de sangue para sobreviver mas que não são imortais. Nascem, crescem e morrem, como qualquer um. Contudo, possuem uma união muito forte com um dos elementos da Natureza – Ar, Água, Fogo e Terra – que lhes permite executar alguns “truques” ora simpáticos ora ofensivos. Os Dhampir são como os Moroi com a diferença de não terem qualquer sintonia com nenhum elemento da Natureza nem de precisarem de sangue para sobreviver. No entanto, destacam-se pela agilidade física e incontornável competência na protecção e guarda da Raça Moroi. Quanto aos Strigoi – para mim, a raça mais atraente das três –, estes são imortais e possuem particularidades que só saberão deliciando-se com esta série.
Estes são somente alguns dos pormenores físicos e mentais que Richelle Mead conferiu aos seus sugadores de sangue, tornando-os especiais e muito menos infantis, mais responsáveis e destemidos, corajosos. Também ao não se cingir ao romance entre uma ou ambas as protagonistas e outras personagens faz com que toda a atenção vá para o terror que assombra e persegue o espírito de Lissa e a união mental que Lissa e Rose partilham entre si, consentindo que, mesmo sendo Academia de Vampiros narrada na pessoa de Rose, o leitor possa experienciar um pouco do que é estar na pele de Lissa.

Academia de Vampiros trata-se de uma aventura imperdível entre uma princesa da realeza bonita, simpática e social e a sua guardiã rebelde, segura de si e que não tem medo de arriscar. Não sendo excessivamente juvenil, esta é uma obra que, no seu sentido mais preciso, aborda temas importantes da nossa actualidade como o verdadeiro apreço da amizade, o suicídio e a auto-mutilação na adolescência e o proveito inconsequente que por vezes os adultos exercem nos mais jovens.
Uma estreia cativante, que agarra o leitor e que o acompanha numa linguagem simples e muito acessível. Uma peripécia do princípio ao fim, com incontáveis fugas, um elevado grau de suspense e descobertas e um misto adorável de romance, amizade e trabalho árduo.»

2 comentários:

Joana Cardoso disse...

Olá! Será que me podiam dizer o dia da data de lançamento do livro Promessa de Sangue?

Obrigada!

Bertrand disse...

Sai no dia 23 de Setembro, sexta feira. :-) Boas leituras!