sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Crítica de Leitor: «Promessa de Sangue»

«Rose Hathaway deixou tudo para trás rumo à Rússia, com o coração desfeito mas extremamente decidida em encontrar o seu amado, Dimitri Belikov. Precisará, então, de todas as suas forças de modo a fazer o que está certo e cumprir com a promessa que em tempos fizera a Dimitri: se algum dia fosse transformado num Strigoi, queria uma estaca de prata espetada no coração, pois é preferível a morte a ser tal criatura das trevas. No entanto, como seria de esperar, esta busca revela-se bastante complicada, mas repleta de novas e incríveis descobertas.
As espectativas para este quarto volume da série eram algo elevadas e, apesar de Promessa de Sangue ser um pouco inferior ao volume anterior, estas não saíram furadas.
A leitura da presente obra foi bastante agradável, polvilhada de momentos cativantes e intrigantes que, por vezes, impediam de a largar. O facto de desta vez, o pano de fundo se dividir entre a Rússia e a Academia de São Vladimir, foi um factor que contribuiu positivamente para a história, bem como o surgimento de um novo leque de personagens que aparenta ter ainda muito para dar.
As personagens vão evoluindo e apesar de muitas delas serem adolescentes, têm diálogos perfeitamente normais sem aquele linguajar enervante, ao contrário do que se vê em muitos livros para “jovens adultos”. A própria escrita da autora, simples, não o é em demasia e não é excessiva no relembrar de certos aspectos passados.
Muito interessante também, foi continuar a acompanhar através da Rose todos os acontecimentos que ocorrem na Rússia ou do outro lado do oceano, graças à sua ligação com Lissa.
Se para este Promessa de Sangue, muitos eram os desenvolvimentos esperados, para o próximo volume nem se fala, pois é com espectativas redobradas que é aguardado.»
Rita Verdial, Bela Lugosi Is Dead

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Richelle Mead anuncia nascimento de bebé

Richelle Mead anunciou recentemente no seu blogue o nascimento do primeiro filho. Atarefada neste novo papel de mãe, a autora partilha a sua alegria com os leitores, assegurando que tanto ela como o bebé estão de perfeita saúde. Ler a notícia aqui.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Excerto: «Promessa de Sangue»

«Naquele momento, quando estava a pensar em aproximar-me do grupo de Moroi, uma das mulheres dhampir levantou-se da mesa e caminhou até ao bar. Os guardiães observaram-na, claro está, mas pareciam confiantes relativamente à sua segurança e estavam mais concentrados nos Moroi. Durante todo este tempo, pensei sempre que os homens Moroi seriam a melhor possibilidade de obter informação acerca da cidade de dhampirs e prostitutas de sangue – mas que melhor maneira poderia haver para descobrir essa localidade do que perguntando mesmo a uma prostituta de sangue?
            Levantei-me casualmente da minha mesa e aproximei-me do bar, como se também fosse pedir uma bebida. Deixei -me ficar por perto enquanto a mulher esperava pelo barman e estudei -a através da minha visão periférica. Ela era loira e usava um vestido comprido coberto por lantejoulas prateadas. Não consegui decidir se o vestido dela fazia com que o meu vestido justo preto de cetim parecesse elegante ou sensaborão. Todos os movimentos dela – mesmo a forma como se deixava estar simplesmente em pé – eram graciosos, como os de uma dançarina. O barman estava a atender outras pessoas e eu soube que era agora ou nunca. Inclinei-me para ela.
– Fala inglês?
Surpreendida, ela deu um salto e olhou para mim. Era mais velha do que eu estava à espera, estando a idade inteligentemente ocultada pela maquilhagem. Os seus olhos azuis avaliaram -me rapidamente, reconhecendo-me como dhampir.
– Sim – respondeu ela cautelosamente. Mesmo só uma palavra foi o suficiente para perceber a pronúncia carregada.
– Estou à procura de uma cidade… uma cidade onde vivem muitos dhampirs, lá na Sibéria. Sabe do que estou a falar? Tenho de encontrá-la.
Mais uma vez, ela estudou -me, e consegui ler a sua expressão. Podia muito bem ter sido uma guardiã, a avaliar pelo seu rosto imperscrutável. Talvez tivesse recebido algum tipo de treino a dada altura da sua vida.
– Não – respondeu secamente. – Deixe isso. – Virou -me as costas e o seu olhar regressou ao barman, enquanto ele preparava para alguém um cocktail azul adornado com cerejas.
Toquei-lhe no braço.
– Tenho mesmo de encontrá-la. Há um homem… – Engasguei-me com a palavra. Lá se ia o meu interrogatório sereno. Só o simples facto de pensar em Dimitri trazia-me o coração à garganta. Como é que podia sequer explicar a situação a esta mulher? Como explicar que estava a seguir uma pista improvável, em busca do homem que mais amava neste mundo, um homem que fora transformado em Strigoi e que eu agora tinha de matar? Naquela altura, ainda conseguia imaginar na perfeição o calor dos seus olhos castanhos e a forma como as suas mãos me costumavam tocar. Como é que conseguiria fazer aquilo que me forçara a atravessar um oceano para levar a cabo?
«Concentra-te, Rose. Concentra-te.»
A mulher dhampir dirigiu-me novamente o olhar.
– Ele não merece isso – disse ela, sem perceber o que eu quis dizer. Sem dúvida que pensou que eu era uma rapariga apaixonada, atrás de algum namorado, o que, suponho, até não estava longe da verdade. – És demasiado jovem… não é demasiado tarde para evitares tudo aquilo. – O rosto dela podia ser impassível, mas havia tristeza na sua voz. – Vai fazer outra coisa qualquer na tua vida. Mantém-te longe daquele sítio.
– Sabe onde fica! – exclamei, demasiado excitada para explicar que não queria ir para lá a fim de me tornar uma prostituta de sangue. – Por favor, tem de me dizer. Tenho de lá chegar!
– Há algum problema?
Voltámo-nos ambas e olhámos para o rosto feroz de um dos guardiães. Bolas. A mulher dhampir poderia não ser a prioridade deles, mas teriam reparado em alguém a importuná-la. O guardião era apenas um pouco mais velho do que eu e esbocei um sorriso doce. Podia não estar a sair do vestido como a outra mulher, mas sabia que a minha saia curta favorecia muito as minhas pernas. Certamente, nem mesmo um guardião seria imune a isso. Bem, ao que parecia, aquele era. A sua expressão dura mostrou-me que os meus encantos não estavam a funcionar. Ainda assim, pensei que o melhor seria tentar a minha sorte com ele e ver se conseguia obter informações.
– Estou a tentar encontrar uma cidade na Sibéria, uma cidade onde vivem dhampirs. Sabe onde fica?
Ele não pestanejou.
– Não.
Ótimo. Estavam ambos a fazer-se difíceis.
– Pois, está bem, talvez o seu patrão saiba? – perguntei, de forma reservada, na esperança de parecer uma aspirante a prostituta de sangue.
Se os dhampirs não quisessem falar, talvez um dos Moroi o fizesse.
– Talvez ele queira companhia e fale comigo.
– Ele já tem companhia – respondeu o guardião calmamente. – Não precisa de mais.
Eu mantive o sorriso estampado no rosto.
– Tem a certeza? – ronronei. – Talvez lhe devêssemos perguntar.
– Não – respondeu o guardião. Naquela simples palavra, ouvi o desafio e a ordem. «Afasta -te.» Ele não hesitaria em eliminar qualquer pessoa que considerasse uma ameaça para o seu senhor… nem que fosse uma modesta rapariga dhampir. Pensei em forçar um pouco mais, mas decidi rapidamente dar ouvidos ao aviso e, efetivamente, afastei -me.
Encolhi os ombros de forma despreocupada.
– É ele quem fica a perder.
Sem mais palavras, regressei casualmente à minha mesa, como se a rejeição não me importasse minimamente. Durante todo aquele tempo, sustive a respiração, quase à espera de que o guardião me arrastasse pelos cabelos para fora da discoteca. Isso não aconteceu. No entanto, enquanto pegava no casaco e deixava algum dinheiro na mesa, vi-o a olhar para mim, desconfiado e cauteloso.
Saí do Rouxinol com o mesmo ar descontraído, dirigindo-me para a rua movimentada. Era sábado à noite e havia muitas outras discotecas e muitos restaurantes nas redondezas. As pessoas que se dirigiam às festas enchiam as ruas, algumas vestidas tão elegantemente quanto os clientes habituais do Rouxinol; outras tinham a minha idade e vestiam-se de forma casual. As filas aglomeravam -se à porta das discotecas, de onde saía música de dança alta e palpitante com tons graves. Os restaurantes, com as suas grandes montras de vidro, desvendavam comensais elegantes e mesas ricamente postas. Enquanto atravessava a multidão, rodeada por conversas em russo, resisti à tentação de olhar para trás de mim. Não queria levantar mais suspeitas, no caso de o tal dhampir estar a observar-me.
No entanto, quando entrei numa rua calma que constituía um atalho para o meu hotel, consegui ouvir os suaves sons de passadas. Ao que parecia, tinha levantado suspeitas suficientes para o tal guardião ter decidido seguir -me. Bem, não havia qualquer hipótese de lhe dar uma oportunidade de levar a melhor. Podia ser mais pequena do que ele – e estar de vestido e saltos altos – mas já lutara contra muitos homens, incluindo alguns Strigoi. Conseguiria dar conta daquele tipo, principalmente se usasse o elemento surpresa. Depois de calcorrear este bairro durante tanto tempo, conhecia as ruas e as suas curvas bastante bem. Estuguei o passo e dobrei apressadamente algumas esquinas, uma das quais me levou para uma viela escura e deserta. Assustadora, era verdade, mas constituía um bom local para fazer uma emboscada, pelo que me escondi na entrada de um prédio. Tirei silenciosamente os sapatos de salto alto. Eram pretos com bonitas tirinhas de cabedal, mas não eram ideais para uma luta, a não ser que eu fizesse tenção de arrancar o olho a alguém com um salto. Na verdade, até nem seria má ideia. Contudo, não estava assim tão desesperada. Sem os sapatos, sentia o chão frio sob os meus pés nus, dado que tinha chovido horas antes.
Não tive de esperar muito tempo. Passados alguns segundos, ouvi as passadas e vi a sombra esguia do meu perseguidor a aparecer no chão, recortada pela luz tremeluzente de um poste de iluminação de uma rua adjacente.
[…]»

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Crítica de Leitor: «Academia de Vampiros»

«Com a febre dos vampiros ainda bastante presente na literatura juvenil actual, é sempre um risco – para alguém que verdadeiramente aprecie o tema – debruçar-se sobre qualquer obra que detenha uma faceta mais jovem e romântica assente na sinopse. No entanto, por vezes surgem surpresas. Muito boas surpresas, até. E isso deu-se com Vampire Academy, uma muito interessante estreia de Richelle Mead, que vem mostrar um lado diferente, mais enigmático, expansivo e hierárquico de uma espécie sobrenatural que deixou de ser imortal.
Embora inicialmente receosa, confesso não ter sido capaz de resistir por muito mais tempo. Assim que me deparei com a nova capa – uma reimpressão Contraponto para celebrar a segunda edição do livro – a vontade de simplesmente lhe pegar e me deixar afundar num universo de dentes aguçados, sangue destilado e tortura psíquica foi tão possante e intensa que continuar sem ceder foi impossível. Assim, tive de lhe pegar... e não poderia ter ficado mais satisfeita.

O aspecto que mais me agradou em toda a leitura foi a amizade presente entre as duas protagonistas – Rosemarie e Vasilisa. O laço que as une é fabuloso, estando tão bem descrito ao ponto de atingir o leitor que imediatamente se sente enfeitiçado pelo magnetismo partilhado entre as duas. É também o constante presenciar do real sentido e valor da amizade entre Rose e Lissa que espicaça o leitor a querer conhecê-las a fundo, a querer saber o verdadeiro motivo que levou à fuga de ambas e ao desespero de Rose em querer proteger a sua melhor amiga de tudo e de todos e, principalmente, em querer saber o segredo que claramente se percebe existir entre as duas... e que mais ninguém sabe.
A beleza no seu sentido mais puro, deste ponto forte da narrativa, está no facto de ser levada ao limite por inúmeras vezes, demonstrando uma persistente protecção de ambas as partes, com altos e baixos, com inimizades e controlos e excessos e avisos, e é essa aproximação do real que incita o leitor a prosseguir leitura, sempre curioso com a próxima etapa, o próximo obstáculo a colocar-se entre as duas ou nos seus caminhos.

As relações que as duas vão tecendo e aprofundando com algumas personagens secundárias são outro dos aspectos mais prezáveis da obra. Mead, ao descrever a um leitor absorto e em branco um mundo que é comum e que pouco de novo tem para oferecer às principais intervenientes que o habitam e conhecem, possibilita que a acção se vá desenrolando sem necessidade de se entrar em pormenores introdutórios excessivamente descritivos e maçadores usuais do início de uma série. Pelo contrário e uma vez que as protagonistas já frequentavam a Academia São Vladimir (onde ocorre quase toda a acção do livro), com a naturalidade dos acontecimentos o leitor toma consciência e conhecimento das várias personalidades participantes na trama, ligações e hostilidades existentes no meio apresentado através de ocorrências entre Rose e Lissa e essas personagens, o que por si oferece ao leitor uma sintonia muito mais segura e consciente para com tudo o que vai surgindo ao longo das páginas.

Christian foi uma personagem que me chamou a atenção logo de início, pelo seu lado misterioso, incompreendido e algo grosseiro e defensivo. Habituado a ser invisível, é a sua personalidade e a forma como encara os restantes Moroi Reais, como ele, que cativa o leitor. A sua indiferença para com os outros e interacção algo proibida com Lissa serve de igual moto de interesse, apelando ao bom senso e empatia do leitor.
Dimitri é outro dos intervenientes que destaco, pela sua perspectiva madura (é mais velho que a maioria) e inteiramente focada no que é essencial – como Dhampir é seu dever, acima de tudo, proteger o ou a Moroi para si designado, mesmo que isso exija colocar o amor em segundo plano.
Mia também apresentou luta, sobretudo por ser uma Moroi fora da Realeza e, como tal, sujeita a enfrentar a mesma crueldade que qualquer outro ser abaixo da grandeza. O seu ódio inicialmente inexplicável é tão forte e tão puro que as atrocidades que comete e que leva outros a igualmente orquestrar em resposta são simplesmente magníficas, levando o leitor à loucura de curiosidade.
Com aparições mais pequenas mas igualmente avassaladoras e importantes para o desenrolar da narrativa, faço menção a Mason, um grande amigo de Rose cujo amor não é correspondido, Victor pela perspicácia e surpresa final e Kirova pela rudeza e mão firme.

Não posso deixar de referir ainda a hierarquia estabelecida e algumas das características vampíricas atribuídas tanto aos Moroi e Dhampir como aos Strigoi. Os primeiros são os mais importantes e aqueles que ocupam os postos de maior relevo na sociedade. São também considerados os “reais” vampiros, aqueles que necessitam de sangue para sobreviver mas que não são imortais. Nascem, crescem e morrem, como qualquer um. Contudo, possuem uma união muito forte com um dos elementos da Natureza – Ar, Água, Fogo e Terra – que lhes permite executar alguns “truques” ora simpáticos ora ofensivos. Os Dhampir são como os Moroi com a diferença de não terem qualquer sintonia com nenhum elemento da Natureza nem de precisarem de sangue para sobreviver. No entanto, destacam-se pela agilidade física e incontornável competência na protecção e guarda da Raça Moroi. Quanto aos Strigoi – para mim, a raça mais atraente das três –, estes são imortais e possuem particularidades que só saberão deliciando-se com esta série.
Estes são somente alguns dos pormenores físicos e mentais que Richelle Mead conferiu aos seus sugadores de sangue, tornando-os especiais e muito menos infantis, mais responsáveis e destemidos, corajosos. Também ao não se cingir ao romance entre uma ou ambas as protagonistas e outras personagens faz com que toda a atenção vá para o terror que assombra e persegue o espírito de Lissa e a união mental que Lissa e Rose partilham entre si, consentindo que, mesmo sendo Academia de Vampiros narrada na pessoa de Rose, o leitor possa experienciar um pouco do que é estar na pele de Lissa.

Academia de Vampiros trata-se de uma aventura imperdível entre uma princesa da realeza bonita, simpática e social e a sua guardiã rebelde, segura de si e que não tem medo de arriscar. Não sendo excessivamente juvenil, esta é uma obra que, no seu sentido mais preciso, aborda temas importantes da nossa actualidade como o verdadeiro apreço da amizade, o suicídio e a auto-mutilação na adolescência e o proveito inconsequente que por vezes os adultos exercem nos mais jovens.
Uma estreia cativante, que agarra o leitor e que o acompanha numa linguagem simples e muito acessível. Uma peripécia do princípio ao fim, com incontáveis fugas, um elevado grau de suspense e descobertas e um misto adorável de romance, amizade e trabalho árduo.»